REINO LUSO
Península Hibérica Século XII – Fonte Atlas Histórico Escolar, MEC |
Sabe-se que durante a expulsão moura, luta que perdurou do Século XI ao XV, pelos mesmos ideais que motivaram os Borgonha, levou o Duque Mouton a radicar-se nas Astúrias. Dele descende Martin Carneiro, cujos descendentes, entrelaçando-se com os da “Fonte Áurea”, resultou na nobre estirpe dos Carneiro da Fontoura. Estes, além de concorrerem para a formação do Reino luso, ligam-se à reconquista cristã da Península. No século XI a Península Ibérica estava dividida em vários reinos: Leão, Castela e Galícia, sob a Coroa de D. Afonso VI, além dos Califados Omíadas e mais os reinos cristãos de Navarra, Aragão e o Condado de Barcelona. O indesejável convívio com os mouros levou esse soberano a socorrer-se de fidalgos do interior europeu para dominar o território. Destes, muitos ingressaram na Corte castelhana, radicando-se na Península. Em 1095, vieram da França, os irmãos D. Raimundo e D. Henrique de Borgonha que se casaram com as filhas de D. Afonso VI, Dª. Urraca e Dª. Teresa, respectivamente. Receberam, o primeiro, o Condado de Galícia (ao norte do Rio Minho) e o segundo, o Condado de Portugal (ao sul). Conforme ensina Hélio Vianna, História do Brasil. |
2.1 – EM MEIO A LUTA CONTRA OS MOUROS NASCE UM NOVO REINO
Enquanto Dª. Urraca herdaria o Trono castelhano, o Conde D. Henrique anexava o Condado de Coimbra, ampliando sua autonomia política. Falecendo em 1114, deixava um filho de 3 anos, o Infante D. Afonso Henriques e Dª. Teresa como Regente, a qual mantinha nítida ambição de reinar. O casamento da viúva Dª. Teresa com o galego D. Fernando criou tensões na Corte.
Nesta época, já brotava uma nova ordem política e social, um pensamento distinto da influente e dominadora ordem castelhana. Para compreendê-la, busque-se numa breve digressão, às remotas ocupações ocorridas na Península Ibérica, desde o ano 1000 a.C. Certamente, são os legendários iberos e celtas, com sua índole desbravadora, a formar o primeiro grande grupo étnico. Os fenícios a reforçaram e imprimiram um cunho mercantil e navegador, ao atingirem todo o Sul peninsular, até o Algarve (século XII a. C.). Algo do talento e da aristocracia grega teria influído, no século VII. Ainda na era pré-cristã, século III, a Península teve os cartagineses como hóspedes. No entanto, foi Roma a exercer, após o ano de 200 a.C., a mais decisiva influência. A municipalização romana é pródiga em consequências. Assim, o povo astuto é posto mais sistematizado. Lisboa, depois do Jus Latinum, tem a primazia de ostentar o Jus Romanum, nos tempos de Júlio César. Uma profícua reestruturação social, militar e religiosa se assentou tão definitiva, que a ascendente aristocracia feudal germânica que se expandiu por quase toda a Europa, não encontrou eco na Península. Outra vez cedido o terreno, já indelevelmente latinizado, aos caudilhos visigodos, alanos e suevos, define-se a índole peninsular e traçam-se as primeiras distinções entre lusos e castelhanos. Os alanos e suevos ocuparam posições mais a oeste, enquanto os visigodos detiveram-se ao leste. A ocupação moura só reforçou a beligerância, uma cultura influente, mas não a ponto de deslatinizá-la. Em especial, o inconsciente lusitano, quando da reconquista cristã, rixentos por dissidências na Corte, astutos e aventureiros, puseram-se independentes com novo pensamento político.
Os irmãos Borgonha, a partir do final do Século XI, como outros fidalgos franceses, somaram-se aos asturianos – contingente jamais rendido pelos mouros – para reintegrar os peninsulares aos costumes cristãos exclusivamente. Esta luta somente iria findar quando, em 1492, Granada, último reduto omíada foi vencido, já no reinado de D. João II, 13º rei português. Nesse interregno, o Algarve foi integrado ao Reino Português (século XIII) depois de sucessivas expansões territoriais, a partir da primeira anexação – o Condado de Coimbra.
Portugal estabeleceu-se como Estado independente em 1139, quando o Infante D. Afonso Henriques, vencendo os mouros, é aclamado seu 1º Rei. Para tanto, teve ainda de submeter o intento de sua mãe, a Regente Dª. Teresa, que almejou, por dissensão ao reinado de Dª. Urraca, de Castela, transformar-se rainha do novo Reino.
Surgem assim, calcado em lutas de assentamento dos povos que ocuparam a Península durante mais de 2000 anos, os Reinos Lusitano e Castelhano, com índole desbravadora dos celtiberos, mercantil e navegadora dos fenícios, aristocrata e talentosa como a dos gregos e cartagineses, sistematizada, com o conceito de cidadania, dos romanos e, ainda obstinada na consecução de seus objetivos como os ancestrais suevos e visigodos; nesta característica tem o reforço dos mouros.
2.2 – A PRIMEIRA DINASTIA: OS BORGONHA
D AFONSO I, o Fundador – 1º Rei (1140-1185)
Filho de Dª. Teresa, o infante D. Afonso Henriques, instalou o Reino Português com apoio da Igreja, após aliar-se aos opositores de sua mãe, que pretendera perpetuar-se no Trono. Dª. Teresa já o disputara, insurgindo-se contra sua irmã, Dª. Urraca, então detentora dos Reinos de Castela e Leão. O Infante consolidou o Reino de Portugal, após vitória sobre os mouros em Ourique. Era o Anno Domini de 1139.
D. SANCHO I, o Povoador – 2º Rei (1185-1211)
Fomentou o povoamento do Reino, estimulando a integração de nobres estrangeiros, para os quais oferecia senhorios.
D. AFONSO II, o Gordo – 3º Rei (1211-1223)
Enfrentou, como seus antecessores, dificuldades de assentamento na região, além das desavenças com o Clero e com a Corte. Consolidou a autoridade real e conquistou Alcácer-do-Sal.
D. SANCHO II, o Capelo – 4º Rei (1223-1248)
Prosseguiu na luta contra os mouros; agravaram-se as crises com a Igreja e a Corte. Tendo a proteção do Vaticano, para o qual o Reino pagava tributos anualmente, submeteu-se a ingerências do Papa, resultando regente D Afonso, irmão de D. Sancho II.
D. AFONSO III, o Bolonhês – 5º Rei (1248-1279)
Com a morte do irmão, o Regente é aclamado Rei. Apazigúam-se as questões com a Corte, onde o feudalismo não vingara como na Europa Central e Inglaterra; o municipalismo, no qual estava incito o conceito de cidadania, pontuava arraigado na cultura portuguesa. Também foi submetido à interdição pela Santa Sé. Integrou o Algarve.
D. DENIS, O Pai da Pátria – 6º Rei (1279-1325)
Hábil, ampliou a harmonia na Corte, com senso prático desenvolveu o comércio e as atividades navais; o cultivo da terra foi incrementado, distinguindo com títulos nobiliárquicos aos que a ela se dedicavam, daí também o cognome de Lavrador. Acolheu os Templários, ordem militar religiosa, depois que estes foram banidos da França e toda a Europa católica e seus bens confiscados. Legislou sabiamente. Surge o Centro de Estudos de Coimbra (1307). Com o Renascimento, o fim da Idade Média.
D. AFONSO IV, O Bravo – 7º Rei (1325-1357)
Em conjunto com seu genro, Afonso XI, rei de Castela, com que antes divergira, combateu o inimigo comum: os mouros.
D. PEDRO I, O Justiceiro – 8º Rei (1357-1367)
Atuou severamente no combate à delinquência e injustiças sociais, perseguiu os assassinos de Inês de Castro, intuídos a eliminá-la durante o reinado de seu pai.
D. FERNANDO, O Formoso – 9º Rei (1367-1383)
Criou a Lei das Sesmarias, aproveitando terras devolutas; desenvolveu a construção naval; fez aliança com a Inglaterra. Dª. Leonor, sua esposa, malquista entre os lusos, ficaria Regente de sua filha, a infanta Dª. Beatriz. Encerra-se a dinastia, porque o Mestre de Avis, D. João, filho natural de D. Pedro, é aclamado Defensor e Regedor dos Reinos de Portugal e Algarve.
A disputa dinástica, além de voltar-se contra Dª. Leonor, teve de enfrentar os castelhanos que tentaram disputar a Coroa lusa. Vencidos estes, em Aljubarrota, consolidam os portugueses a independência política.
2.3 – DINASTIA DOS AVIS
D. JOÃO, o Mestre de Avis – 10º Rei (1385-1433)
Aclamado em 1385. A luta contra os castelhanos sucede-se entre várias tréguas até o tratado de paz obtido somente em 1411. Veio então a expansão ultramarina, conquistando o estreito de Gibraltar, o que taticamente impedia qualquer revide muçulmano.
D. DUARTE I, o Eloquente – 11º Rei (1433-1438)
Empreendeu a conquista malsucedida do Tanger, comandada por D. Fernando, ficando refém dos mouros. Foi seu irmão, o infante D. Henrique, o Navegador, que implantou a Escola de Sagres, fator crucial nos descobrimentos além-mar. D. Henrique descobriu e colonizou as Ilhas da Madeira e Açores.
D. AFONSO V, o Africano – 12º Rei (1438-1481)
Com a queda de Constantinopla, reacendeu a luta Cristã, que fora fator decisivo na reconquista da Península, agora tentando tomar novas praças já em território africano, tomou Arzila entre outras. Mas não foi feliz na pretensão pela Coroa espanhola. Na Europa, expansão do Humanismo e Renascimento.
D. JOÃO II, o Príncipe Perfeito – 13º Rei (1481-1495)
Desenvolveu a navegação, sucedem-se as conquistas marítimas; tratou com severidade a traição em sua Corte com reinos estrangeiros. Cruzam o Equador (1471). E em 1492, os Cristãos tomam Granada: mouros fora da Península Ibérica.
D. MANUEL I, o Aventureiro – 14º Rei (1495-1521)
D. Manuel, no ano de 1500, por Pedro Álvares Cabral, conquistou o Brasil, território americano já lhe assegurado pelo Tratado de Tordesilhas. Vasco da Gama descobriu o caminho para as Índias por mar. Fez-se a 2ª codificação das leis portuguesas – as Manuelinas. Impulso no comércio com as Índias. Rei de Portugal e Algarve, Senhor da conquista naval e do comércio da Etiópia, Arábia e Índia. Uma vívida manifestação da ascendente índole fenícia e cartaginesa que aflorava com todo o esplendor nestas paragens lusitanas latinizadas.
D JOÃO III, o Colonizador – 15º Rei (1521-1557)
Implantou o sistema de capitanias no Brasil. Combateu os contrabandistas no litoral da nova Colônia; criou o Governo Geral, importante fator de unidade administrativa.
D. SEBASTIÃO I, o Desejado – 16º Rei (1557-1578)
CARDEAL D. HENRIQUE – 17º Rei (1578-1580)
Por morte dos herdeiros naturais, surge nova questão dinástica. D. Sebastião I e o Cardeal D. Henrique foram os últimos governantes, sucedendo-se a União da Península Ibérica em torno da Coroa espanhola.